Trajetórias da mãe de santo Sofia Ronald: memórias fora do CIStema em experiências religiosas TRANSviadas na Ilha de Parintins, Amazonas
DOI:
https://doi.org/10.51880/ho.v25i1.1223Palabras clave:
Umbanda, religiosidade amazônica, Transexualidade, história oralResumen
A religiosidade amazônica é complexa, fruto de povos múltiplos. O texto debruça-se sobre o protagonismo de Mãe Sofia, uma mãe de santo transexual, objetivando refletir sobre desafios e estratégias de resistência lançados por uma mulher trans e umbandista em Parintins. O ponto de partida para a pesquisa foi um Boletim de Ocorrência gerado contra Mãe Sofia, em 1994, em que registrava-se enfaticamente a profissão de “macumbeiro”. Por meio da história oral, via entrevista individual semiestruturada, conhecemos a trajetória de vida dela e constatamos o importante acolhimento religioso e familiar de Mãe Sofia, possibilitador de protagonismo dentro do conjunto de crenças da umbanda, como ela nomeia sua fé, permitindo a nosso sujeito social romper com as normas heterossexistas e cissexuais construídas pela sociedade judaico-cristã. Como conclusão, fica a necessidade de valorização das experiências e memórias produtoras de “brechas” no rígido projeto colonial heterocissexista provocadas por Mãe Sofia: ela construiu um espaço de visibilidade e reconhecimento, articulando corpo e gênero dissidentes a uma religião também dissidente, resistindo às intempéries.
Citas
ALBERTI, Verena. O que documenta a fonte oral? Possibilidades para além da construção do passado. Rio de Janeiro: CPDOC, 1996.
ALVES, Juliana. Expectativa de vida de trans no Brasil se equipara com a Idade Média, diz advogada. CNN Brasil, São Paulo, 28 jun. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/06/28/expectativa-de-vida-de-trans-no-brasil-se-equipara-comidade-media-diz-advogada. Acesso em: 18 jan. 2022.
BENEVIDES, Bruna; NOGUEIRA, Sayonara Naider Bonfim (Org.). Dossiê dos assassinatos e das violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2019. São Paulo: Expressão Popular; Antra; IBTE, 2020.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA. Detenção: Estelionato (8109). Livro 63 – 29/10/1994 a 28/12/1994, p. 187. Arquivo da Delegacia de Polícia de Parintins (AM), 1994.
BRAGA, Sérgio Ivan Gil. Danças e andanças de negros na Amazônia. In: SAMPAIO, Patrícia Melo (Org.). O fim do silêncio: a presença negra na Amazônia. Belém: Açaí, 2011. p. 157-172.
BUTLER, Judith. Desdiagnosticando o gênero. Physis, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 95-126, 2009.
CRUZ, Ana Carolina Dias; ARRUDA, Angela. O povo de rua em terreiros de umbanda na cidade do Rio de Janeiro. Memorandum, Belo Horizonte, v. 27, p. 100-126, 2014.
DIAS, Claudenilson da Silva. Identidades Trans* e vivências em Candomblés de Salvador: entre aceitações e rejeições. Dissertação (Mestrado em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.
FERRETTI, Mundicarmo. A Mina maranhense, seu desenvolvimento e suas relações com outras tradições afro-brasileiras. In: MAUÉS, Raymundo Heraldo; VILLACORTA, Gisele Macambira (Org.). Pajelanças e religiões africanas na Amazônia. Belém: UFPA, 2008. p. 181-202.
FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Repensando o sincretismo. São Paulo: Edusp; Arché Editora, 2013.
LIMA, Michele Pires. Cotidiano, violência e movimento social: histórias de uma travesti militante em Manaus (1996-2017). Aedos, v. 12, n. 26, p. 323-344, 2020.
LIMA JÚNIOR, Josivaldo Bentes; SILVA, Adan Renê Pereira da. Mulheres e práticas de cura: vivências no Mocambo do Arari – Parintins, Amazonas. Revista Eletrônica História em Reflexão, Dourados, v. 14, n. 28, p. 164-190, jul./dez. 2020b.
LIMA JÚNIOR, Josivaldo Bentes; SILVA, Adan Renê Pereira da. “Só ouvi essas vozes e estou cumprindo a minha sorte”: cura, fé e protagonismo feminino no Mocambo do Arari, Parintins, Amazonas. PLURA, Belo Horizonte, v. 11, n. 2, p. 39-62, 2020a.
LOURO, Guacira Lopes. Heteronormatividade e homofobia. In: JUNQUEIRA, Rogério Diniz (Org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação; Unesco, 2009. p. 30-85.
MAUÉS, Raymundo Heraldo; VILLACORTA, Gisela Macambira. Pajelança e encantaria a Amazônica. In: PRANDI, Reginaldo (Org.). Encantaria brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados. Rio de Janeiro: Pallas, 2011. p. 11-58.
NAKANOME, Ericky da Silva; SILVA, Adan Renê Pereira da. Caprichoso, o boi de negro: nos terreiros de axé, nosso brado de fé!. Revista Educação e Humanidade. Humaitá, v. 2, n. 2, 129-153, jul./dez. 2021.
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2016.
NASCIMENTO, Letícia. Transfeminismo. São Paulo: Jandaíra, 2021. (Coleção Feminismos Plurais).
NASCIMENTO, Taiane Flôres do; COSTA, Benhur Pinós da. As vivências travestis e transexuais no espaço dos terreiros de cultos afro-brasileiros e de matriz africana. Revista Espaço e Cultura, Rio de Janeiro, n. 38, p. 181-205, 2015.
NASCIMENTO, Wanderson Flor do. Transgeneridade e Candomblés: notas para um debate. Revista Calundu, v. 3, n. 2, p. 123-141, 2019.
PARINTINS, Prefeitura Municipal de Parintins, 3 nov. 2021. Disponível em: https://parintins.am.gov.br/?q=277-conteudo-103826-parintins. Acesso em: 18 jan. 2022.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.
PORTELLI, Alessandro. História oral como arte de escuta. Tradução Ricardo Santhiago. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
PRANDI, Reginaldo. A dança dos caboclos: uma síntese do Brasil segundo os terreiros afro-brasileiros. In: MAUÉS, Raymundo Heraldo; VILLACORTA, Gisele Macambira (Org.). Pajelanças e religiões africanas na Amazônia. Belém: UFPA, 2008. p. 31-50.
ROVAI, Marta. “A gente é pessoa”: narrativas de mulheres trans sobre direitos humanos. Tempo & Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 29, p. 1-28, 2020.
SAMPAIO, Patrícia Melo. Escravos e escravidão africana na Amazônia. In: SAMPAIO, Patrícia Melo (Org.). O fim do silêncio: a presença negra na Amazônia. Belém: Açaí, 2011. p. 13-42.
SILVA, Adan Renê Pereira da. “Da terra de cordel e reisados”: reflexões críticas sobre o Ecofestival de Novo Airão e a afro-amazonidade. Contracorrente, Manaus, n. 15, p. 56-73, 2020b.
SILVA, Adan Renê Pereira da. Formação em diversidade sexual na (res)significação da docência: um estudo na Rede Municipal de Ensino de Manaus. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2020a.
SILVA, Adan Renê Pereira da. Por uma escola para todos e todas: ensaios sobre gênero, sexualidade e diversidade sexual em uma perspectiva inclusiva. Revista Ensino de Ciências e Humanidades, Humaitá, v. 4, n. 1, p. 325-344, jan./jun. 2019b.
SILVA, Adan Renê Pereira da; MASCARENHAS, Suely Aparecida do Nascimento; CORREA, Paulo Henrique Trindade. Entre falas e práticas: uma escola para todos e todas? Cadernos de Gênero e Tecnologia, Curitiba, n. 43, v. 14, p. 138-152, jan./jun. 2021.
SILVA, Márcia Gabrielle Ribeiro. Terreiros de memórias afroindígenas: experiências da Umbanda em Parintins/ AM (1983-2019). Dissertação (Mestrado em História) – UFAM, Manaus, AM, 2019a.
SILVA, Márcia Gabrielle Ribeiro; FERREIRA, Arcângelo da Silva. Na trajetória da umbanda e candomblé: religiosidades de matrizes africanas na cidade de Parintins (1980-2000). SIMPÓSIO NACIONAL DA ABHR, 14., 2015, Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: ABHR, 2015.
SILVEIRA, Diego Omar da; BIANCHEZZI, Clarice. Vozes e identidades plurais: uma análise da diversificação do campo religioso em Parintins (AM) a partir de relatos orais. História Oral, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 56-80, 2019.
SILVEIRA, Diego Omar da; COELHO, Hellon da Silva; MOTA, Renan Jorge Souza da; FARIAS, Yandrei Souza. Territórios encantados: etnografias visuais das religiões populares em Parintins (Amazonas). Fotocronografias, v. 6, p. 240-255, 2020.
WILLIAM, Rodney. Apropriação cultural. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020. (Coleção Feminismos Plurais).
Fontes Orais
SANTOS, Sofia Ronald Silva dos [44 anos]. [abr. 2021]. Entrevistadores: Josivaldo Bentes Lima Júnior e Adriano Magalhães Tenório. Parintins, AM, 29 abr. 2021.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2022 História Oral
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0.
A revista História Oral é licenciada de acordo com a atribuição Creative Commons BY-NC-ND 4.0 (Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional). Dessa forma, os usuários da revista têm o direito de compartilhar livremente o material, copiando-o e redistribuindo-o em qualquer suporte e formato, desde que sem fins comerciais, fornecendo o crédito apropriado e não realizando mudanças ou transformações no material. Para maiores informações, ver: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR