Nina, uma sobrevivente: a história oral como abordagem para a reflexão sobre violência de gênero em contextos rurais

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.51880/ho.v25i1.1222

Palabras clave:

Violência de gênero, meio rural, história oral, memória

Resumen


O artigo analisa as relações entre gênero, violência e memória através da narrativa construída por uma mulher de 68 anos, trabalhadora rural do município de Lagoão, interior do Rio Grande do Sul, Brasil. De forma espontânea, sem que o tema fizesse parte de algum roteiro prévio da entrevista, Nina rememorou as situações de violência doméstica ocorridas em seu primeiro casamento, situado entre o final dos anos 1960 e os anos 1990. São memórias marcadas pelo sofrimento, tema ainda pouco visível na historiografia (Farge, 2011). Através da história oral é possível vislumbrar o modo como Nina elabora esse passado de violências, bem como seus modos de enfrentamento e resistências. O artigo busca, através das memórias individuais, discutir um problema de alto impacto social, considerando que a violência de gênero constitui uma guerra contra as mulheres, resultante da organização patriarcal das sociedades latino-americanas.

Biografía del autor/a

Natalia Pietra Méndez, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Doutora em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008). É Professora do Departamento de História da UFRGS, do Mestrado Profissional em Ensino de História, PROFHISTÓRIA (Núcleo UFRGS) e do Programa de Pós-Graduação em História(UFRGS).

Citas

ASSUNÇÃO, Wanessa Marinho. Violência contra mulheres no Brasil e a invisibilidade das mulheres rurais. (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade Federal de Viçosa, 2019.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

BRASIL. Lei no 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial da União, Brasília, 10 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm. Acessado em: 17 fev. 2021.

Código Civil de 1916. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071impressao.htm. Acesso em julho de 2021.

COSTA, Cassiane da. BEVILAQUA, Joel Orlando. Gênero e campesinato no sul do Brasil: dominação masculina e transformação. Curitiba: Editora CRV, 2018.

COSTA, Marta Cocco da; SILVA, Ethel Bastos da; SOARES, Joannie dos Santos Fachinelli;

BORTHA, Luana Cristina; HONNEFA, Fernanda. Mulheres rurais e situações de violência: fatores que limitam o acesso e a acessibilidade à rede de atenção à saúde. Rev Gaúcha Enfermagem. 2017;38(2):e59553. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983- 1447.2017.02.59553.

DA COSTA, C. B. (2014). A escuta do outro: os dilemas da interpretação. História Oral, 17(2), 31–46. Recuperado de https://revista.historiaoral.org.br/index.php/rho/article/view/403

FARGE, Arlette. Lugares para a História. Tradução Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

GARCÍA, María Ángeles Martínez García. “¿Adónde puedo ir yo?...”: violencia de género en las áreas rurales de asturias. Tese (Doutorado em Sociologia) - Universidad de Educación a Distancia, Madrid, 2011.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Atlas da violência 2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020. Acessado em: 17 fev. 2021.

LOPES, Marta Julia Marques; LANGBECKER, Tatielle Belem. Inclusão produtiva, pecuária familiar e situação das mulheres rurais do Programa Brasil Sem Miséria em um município do RS – contexto de uma realidade pouco conhecida. Redes – Santa Cruz do Sul: Universidade de Santa Cruz do Sul, v. 23, n.1, janeiro-abril, 2018.

MARTINS, Aline Gomes. A Violência Conjugal em Contextos de Ruralidades: um estudo com mulheres rurais de comunidades do interior de Minas Gerais. Tese (Doutorado em Psicologia). Belo Horizonte/ MG: Universidade Federal de Minas Gerais, 2017.

McCLINTOCK, Anne. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2010.

Neto, R. B. G. (2011). História, política e testemunho: violência e trabalho na Amazônia brasileira. A narrativa oral da presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Confresa (MT), Aparecida Barbosa da Silva. História Oral, 13(1). https://doi.org/10.51880/ho.v13i1.130

PATAI, Daphne. História oral, feminismo e política. São Paulo: Letra e Voz, 2010.

PEDRO, Joana Maria. A experiência com contraceptivos no Brasil:uma questão de geração. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 23, nº 45, pp. 239-260 – 2003.

PERROT, M. As mulheres ou os silêncios da história. São Paulo: EDUSC,2005.

POLLAK. Memória, esquecimento, silêncio. Rio de Janeiro: Estudos Históricos, v. 2, n. 3, p. 3- 13, 1989.

PORTELLI, Alessandro. “O que faz a história oral diferente”. São Paulo: Projeto História, n. 14, p. 25-39, fev. 1997a.

PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre ética na História Oral. Projeto História, São Paulo (15), abr. 1997b.

ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira; CASTELO BRANCO, Naira de Assis. Romper o silenciamento: Narrativas femininas sobre violência de gênero e desvitimização. In: ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (organizadora). História oral e história das mulheres: Rompendo silenciamentos. São Paulo: Letra e Voz, 2017.

SALVATICI, Silvia. Memórias de gênero: reflexões sobre a história oral de mulheres. História Oral, CIDADE. v.1, n. 1, p-29-42, jan.-jun., 2005.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. (Trad. Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila). Recife: SOS Corpo, 1991. p.1-2.

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA, Rio Grande do Sul. Indicadores da Violência Contra a Mulher - Lei Maria da Penha. 2020. Disponível em: https://ssp.rs.gov.br/indicadores-da-violencia-contra-a-mulher. Acessado em: 23 fev. 2021.

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA, Rio Grande do Sul. Indicadores da Violência Contra a Mulher - Por município 2017. Disponível em https://ssp.rs.gov.br/indicadores-da-violencia-contra-a-mulher Acessado em 28 jul 2021.

SEGATO, Rita Laura. La guerra contra las mujeres. Madrid: Traficante de Sueños, 2016.

SENADO FEDERAL. Proibição de casamento para menor de 16 anos é sancionada pelo governo federal. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/03/13/proibicao-de-casamento-para-menor-de-16-anos-e-sancionada-pelo-governo-federal. Acessado em 23 de janeiro de 2020.

SPANEVELLO, Rosani Marisa; MATTE Alessandra; BOSCARDIN,Mariele. Crédito rural na perspectiva das mulheres trabalhadoras rurais da agricultura familiar: uma análise do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Polis: Revista Latinoamericana [Online], nº 44, 2016. URL : http://polis.revues.org/11963. Acessado em 28 de junho de 2019.

VENEGAS, Lola; REVERTE, Isabel M.; VENEGAS, Margó. La guerra más larga de la história: 4.000 años de violencia contra las mujeres. Espanha: ESPASA, 2019.

Publicado

2022-03-07

Cómo citar

de Fátima de Moraes, M., & Méndez, N. P. . (2022). Nina, uma sobrevivente: a história oral como abordagem para a reflexão sobre violência de gênero em contextos rurais. História Oral, 25(1), 189–207. https://doi.org/10.51880/ho.v25i1.1222